Gente Muito À Frente
Tenho 2 colegas do Chile no mestrado e as duas têm uma bolsa do governo chileno que lhes paga as propinas e a estadia em Londres. No outro dia uma delas disse-me que o governo deu 700 bolsas para alunos chilenos poderem estudar no estrangeiro. Não estamos a falar de 5, nem de 10, estamos a falar de 700 bolsas. Tanto eu como a Indiana ficámos parvas, portanto pedimos que nos falasse mais sobre o assunto. E segundo o que percebi é fornecido a todos os alunos um ranking mundial de universidades e as bolsas são atribuídas por um sistema de pontos, portanto quanto melhor for a universidade, mais hipóteses o aluno tem de conseguir o financiamento. Depois contam outros factores, como a média do curso. Não há limite de tempo para o financiamento, pode ser um mestrado de 1 ano ou um doutoramento de 3. O governo paga, a contrapartida é que quando o curso acaba a pessoa tem de voltar para o Chile e trabalhar lá durante o mesmo tempo que esteve fora se quiser trabalhar fora da capital, ou trabalhar o dobro do tempo que esteve fora se quiser trabalhar na capital. E sinceramente tenho de dizer que fiquei admirada, porque esta atitude revela uma inteligência que eu não estava à espera, um país que está a apostar forte em ter profissionais qualificados nas melhores universidades do mundo e que não os quer concentrar na capital do país, é um país que supostamente é do terceiro mundo, mas que está a anos luz de um país europeu chamado Portugal. E ela própria disse que o sistema não era perfeito, havia pouca clareza em algumas decisões que eram tomadas para atribuir bolsas, mas mesmo no país mais corrupto podem dar-se umas 100 bolsas para os filhos e os primos e ainda sobram 600 para pessoas normais, como ela. Naquele momento tive inveja de não ser do Chile, de não ser de um país onde se apoia a formação e a educação, porque sem educação nada pode melhorar. A qualidade da educação de um país não se mede pelo numero de pessoas que acabam o secundário, não é por facilitar a passagem dos alunos e aumentar as estatísticas que Portugal avança. Muito pelo contrário, quanto mais se facilita menos se sabe e menos qualidade se produz. E portanto ficamos assim, pessoas do "terceiro mundo" a viver em Londres com tudo pago pelo governo e pessoas do "primeiro mundo" que pedem empréstimos para pagar propinas. Amén.
5 comentários:
olá! há já algum tempo que visito o teu blog, indentifico-me com cada virgula que escreves, cada tema e até com o tipo/humor/ritmo de cada post. Parabéns ;)
Não consigo não comentar esta história. é realmente revoltante.
também queria imenso tirar um mestrado em londres (e para isso ando atras de alguma coisa na minha area, o que para alguem recem licenciado e sem experiencia no ramo é um terror!:S) mas o maior problema é efectivamente o financiamento para ir para lá, uma vez que não queria dar mais esse peso ao meus pais :S.
Neste momento detesto Portugal por todos os motivos e mais algum. a situação financeira vai de mal a pior, os politicos são corruptos e para alem disso uns idiotas chapados que a unica coisa que fazem é reagir à m*&#% que fazem!... Em vez de ajudarem o pessoal a ter uma formação fantastica e depois ainda ajudarem o país a sair do fosso em nos meteram, era uma ideia que talves.... nao sei, digo eu, nao fosse má de todo! Enfim, estou tão revoltada que não tenho a certesa de ter conseguido passar a ideia que queria!:S
só uma pergunta: eles dão a bolsa só a chilenos ou se eu emigrar pra lá também a posso receber?! :)
(bbjinho, sara.)
Não fazia a mínima ideia. Estou boquiaberta! Países pelos quais sempre nos sentimos superiores dão-nos umas belas lições! Muito muito à frente! Que visão a deles!
Nós estamos cada vez pior.
Portugal, infelizmente, não têm apostado na Educação e no Ensino Superior a situação ainda é mais flagrante.
Investimos imenso dinheiro a pagar proprinas bem caras, investimos tempo e sonhos...e quantos de nós investimos tudo isto e muito mais e nem um emprego conseguimos na área para a qual estudamos??
E as bolsas "oferecidas" nas Universidades são por vezes uma anedota, tive colegas que usavam o valor da bolsa para levarem uma vida boémia, alguns até adquiriram carros. Muitos eram filhos únicos e os pais tinham ordenados tremendos...e este é um pequeno exemplo da vergonha que assiste durante os meus primeiros anos de universidade
Eu, apesar da enorme ajuda dos meus pais e não passar dificuldades, vi-me forçada a trabalhar muitas vezes em detrimento do curso.
Falamos do Chile, mas nas nossas universidades quantos nós não temos ou tivemos colegas de origem africana com bolsas excelentes e de meter inveja?
Nós sim somos um país de quase terceiro mundo no que diz respeito à Educação, ao emprego, á estabilidade financeira.
Depois surgem diversas reportagens relacionadas com o facto dos jovens sairem cada vez mais tarde da casa dos pais. Pois claro...como é que podemos avançar com os nossos objectivos, senão nos permitem fazê lo?
Temos as ferramentas ( formações, licenciaturas e afins) e não temos a possibilidade/ oportunidade de aplicá las.
Pior de tudo é que muitas são as licenciaturas que em nada nos preparam para a realidade do mercado de trabalho, contamos com o estágio...e quantos conseguimos um estágio???
Felizmente, que alguns de nós têm a coragem de colocarem se numa situação de empréstimo e partem em busca de algo melhor!
Se por cá não se consegue, siga-se caminho para outras paragens...
Era bom que houvesse algum tipo de apoio para as pessoas de cá, mas um apoio real. Quando fui para lisboa negaram-me bolsa porque se os meus pais podiam suportar que eu vivesse em lisboa então não precisavam do dinheiro. No entanto, havia muitas meninas lisboetas cujos papás declaram o rendimento mínimo que andavam de smart e tinham malinhas louis vuitton.
Portuhal nao é primeiro mundo nem a India...
Enviar um comentário