20.10.12

Saudades

 


Pergunto-me muitas vezes se algum dia uma pessoa se sente em casa num país estrangeiro da mesma forma que se sente em casa na cidade em que cresceu. E digo isto, porque sempre que chego ao Algarve sinto que um peso se levanta e posso enfim respirar. De todas as cidades em que vivi, gostando mais de umas do que outras, não houve nenhuma que fizesse sentir que estava no sítio certo. E embora não esteja constantemente a pensar nisto, dou por mim às vezes a aperceber-me como anseio por um passeio na praia e o cheiro da maresia. A vista constante de montanhas em todos os lados para onde se olhe é a princípio impressionante e com o lago à mistura ainda mais bonita se torna. No entanto, num dia de muita neblina, as montanhas não se conseguiam ver e parecia que o lago se estendia sem fim. Parecia o mar. E eu senti um alívio tão grande ao olhar para a paisagem sem aquela barreira à frente, senti que estava ao pé do mar, senti-me mais perto de casa. Nem eu própria sabia como me sentia enclausurada nesta espécie de fortaleza natural, nem eu sabia que não respirava como deve ser. Há dias em que o coração dói mais do que outros, mas eu agora fico sempre a espera dos dias com neblina para me sentir um pouco mais livre.

10.10.12

30

Aos 30 anos posso dizer que já fui várias pessoas, sinto às vezes um peso de quem já viveu várias vidas. É normal lembrar-me de coisas que aconteceram noutra terra, numa altura diferente e sentir que já fui mais adulta do que sou.

Hoje, no dia do meu trigésimo aniversário posso dizer que estou a viver num país onde nunca pensei que viria a viver, na minha 13ª casa. Já comprei mais toalhas e lençóis do que muita gente na vida inteira. Aprendi a desapegar-me de coisas e de casas, adoro ter a minha casa, mas sei que amanhã posso já não estar no mesmo sítio. Aprendi a começar de novo e de novo e de novo.

Domino a língua inglesa e luto por domesticar a língua francesa, mas ela é selvagem e continua a trocar-me as voltas.
Sonho com a ideia de voltar a Portugal, para uma vida mais cheia, com a certeza que isso muito dificilmente vai acontecer.
Continuo sentir-me perdida e bastante desiludida por descobrir que a idade não resolve as dúvidas existenciais, que pelo contrário, as torna maiores.
Apercebi-me que nada substitui a família e os amigos. E que os bons amigos são aqueles com quem conseguimos conversar como se nos tivéssemos visto ontem, mesmo que se tenham passado meses.
Reconheço que há uma linha ténue entre aventura e sacrifício e que a idade vai fazendo pesar a segunda.
Desejos para o futuro? Viajar, conhecer mais coisas, novas comidas, novos costumes e ter sempre um ninho para onde posso voltar ao fim do dia.

Deixo os 20 para trás e começo uma nova fase.

3.10.12

E Depois Fazem Destas

Registei-me no site suíço da lotaria para poder jogar ao euromilhões online. Hoje recebi uma carta no correio a pedir-me para enviar por correio ou por email uma fotocópia do BI ou passaporte para terem a certeza que tenho mais de 18 anos.

2.10.12

The Pillars Of The Earth

Adoro o cheiro e o toque de um livro acabado de comprar.

Facturas

Os suíços gostam muito do sistema de pagamento por facturas. As contas da electricidade, do telefone, ginásio, etc chegam pelo correio e podem ser pagas online ou indo aos correios. Até aqui tudo bem, o que me surpreendeu foi quando comecei a fazer compras para a casa (comida, produtos de limpeza) na internet e me apercebi que eles oferecem a possibilidade de pagar com factura. Ou seja, recebi tudo o que tinha pedido e deram-me até ao fim do mês para pagar. Como se isto não fosse já surpreendente, no outro dia andava a ver sapatos no site zalando.ch e também lá se pode pagar com factura até 14 dias depois de receber a encomenda. É isso que este país tem de interessante, por um lado exigem uma data de papelada e dificultam imenso o processo de integração, mas depois entregam-nos comida e sapatos em casa e pagamos quando pudermos.